Davos: crise geopolítica torna ‘catástrofe’ cibernética iminente
Relatório do Fórum Econômico Mundial revela que 86% dos líderes empresariais acreditam que a instabilidade geopolítica global é moderada ou muito provável de levar a um evento cibernético catastrófico nos próximos dois anos
Se o cibercrime fosse um estado, seria a terceira maior economia global depois dos EUA e da China, com uma receita estimada de US$ 10,5 trilhões, acima dos US$ 3 trilhões em 2015. A citação foi feita pelo primeiro-ministro da Albânia, Edi Rama, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, com base em um relatório de 2020 da empresa norte-americana Cybersecurity Ventures.
O primeiro-ministro, cujo país sofreu um ciberataque atribuído ao Irã no ano passado, falou um painel durante o qual foi lançado o relatório “Global Cybersecurity Outlook 2023”. O relatório revela que 86% dos líderes empresariais acreditam que a instabilidade geopolítica global é moderada ou muito provável de levar a um evento cibernético catastrófico nos próximos dois anos. Além disso, 93% dos líderes que cuidam da segurança cibernética têm a mesma opinião.
“Isso excede em muito o que vimos em pesquisas anteriores”, comentou Jeremy Jurgens, diretor administrativo do Fórum Econômico Mundial, durante uma coletiva de imprensa.
Esse temor é alimentado pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que trouxe uma série de ataques cibernéticos não apenas nos dois países, mas também em outros nações europeias, disse Jurgens.
“Os ataques cibernéticos podem se espalhar de forma imprevisível, [como] vimos no ataque VA-SAT, que inicialmente pretendia desligar os serviços de comunicação para os militares ucranianos, mas interrompeu parte da produção de eletricidade em toda a Europa”, acrescentou.
Além disso, o relatório do Fórum Econômico Mundial também descobriu que 43% dos líderes empresariais acreditam que os ataques cibernéticos terão um impacto material em suas organizações. Ainda assim, apenas 27% deles acham que alcançaram a resiliência cibernética.
O relatório mostra também que a escassez de habilidades em segurança cibernética é crítica, com 34% dos entrevistados dizendo que há lacunas de habilidades em suas equipes e 14% dizendo que carecem de habilidades específicas para proteger suas organizações.
Um dado positivo do relatório é que os investimentos em segurança cibernética devem aumentar. “Os líderes empresariais veem cada vez mais a segurança cibernética como parte de seu plano de investimento estratégico, com 49% deles dizendo que a segurança cibernética os ajuda a avaliar os países com os quais decidem investir”, acrescentou Jurgens.
O primeiro-ministro também acrescentou outro desafio de resiliência cibernética em escala mais ampla:
Os países precisam de coalizões maiores para se defender. “O crime tradicional na Europa criou uma UE muito mais funcional do que os estados europeus, porque [seus atores] estão extremamente interconectados, não precisam se sentar em reuniões intermináveis e não precisam lidar com vetos, enquanto os estados da UE estão sempre lutando para encontrar um consenso sobre sua estratégia”, disse ele.